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Rio Tietê morre em Itaquaquecetuba

       Um estudo divulgado nesta sexta-feira (21) pela Fundação SOS Mata Atlântica mostra que o Rio Tietê morre na cidade do Itaquaquecetuba. Os dados apontaram ainda que das sete cidades da região cortadas pelo rio, em cinco as análises apontam situação "ruim" da água. Neste sábado (22) de setembro é comemorado o Dia do Rio Tietê.

De acordo com o levantamento da SOS Mata Atlântica, o Tietê entra em Itaquaquecetuba com a qualidade regular, mas passa para ruim quando está na divisa com Itaim Paulista, bairro da cidade de São Paulo.

Apesar de o rio também apresentar qualidade ruim em outras cidades , foi Itaquaquecetuba o ponto em que os pesquisadores verificaram que é impossível que espécies de peixes, por exemplo, sobrevivam.

O educador ambiental da SOS Mata Atlântica, César Pegoraro, ressaltou que em Itaquaquecetuba, assim como nas demais cidades, não existe um só fator de poluição, mas sim aqueles que têm maior influência na má qualidade.

“É uma combinação de fatores, mas em Itaquaquecetuba principalmente a falta de saneamento básico e de tratamento do esgoto, combinados com outros fatores menores, como a agrotóxico, fertilizantes e resíduos sólidos levados pela chuva até o rio”, destacou.

A Prefeitura de Itaquaquecetuba informou que a coleta de esgoto está em 75,6% e o tratamento é de 15,5% na cidade. "O contrato firmado entre a administração e a Sabesp prevê que em 7 anos o abastecimento de água que hoje atinge 93% da população chegará a 96,4% em 2025. A coleta de esgoto subirá para 93% e o tratamento de esgoto a 88,5%", informou em nota enviada ao G1.

Em nota, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que investiu R$ 284 milhões nos últimos cinco anos em coleta e tratamento de esgoto nos municípios do Alto Tietê. As obras incluem tubulações e estações de tratamento nas cidades atendidas na região.

"A melhoria do rio na região depende também de outros fatores, como urbanização de áreas irregulares, destinação adequada dos resíduos sólidos pelos municípios e tratamento de esgoto nas cidades não operadas. A Sabesp atende a 34 dos 39 municípios da Região Metropolitana atualmente", informou a companhia.

Além disso, a Sabesp destadou que o Projeto Tietê é o maior programa de saneamento do Brasil, resultado de US$ 2,8 bilhões em investimentos na coleta e tratamento de esgoto na Grande São Paulo. Nesse período, aumentou a coleta de esgoto de 70% para 87%, e o tratamento de esgoto de 24% para 70%.

Volume morto diminui

O estudo da SOS Mata Atlântica foi realizado em toda a extensão do rio e mostrou que o volume morto atualmente é de 122 km e representa 11% da extensão do maior rio paulista. O índice é 8 quilômetros menor do que o registrado no último ano.

Apesar desta redução, a Fundação SOS Mata Atlântica destaca que o Estado de São Paulo ainda está longe de alcançar a marca histórica de 71 km, de 2014

Os dados são do projeto Observando os Rios, a partir das análises feitas no último ano por 1.730 voluntários participantes de 103 grupos de monitoramento.

Crescimento desornado contribuiu para poluição

A presidente da Ong Biobrás, Nadja Soares, avalia que hoje um dos principais problemas do Rio Tietê é o esgoto doméstico não tratado. Ela conta que embora tenha havido ações neste sentido, ainda há muito o que se fazer.

“A gente tem uma biodiversidade aquática muito rica até Biritiba Mirim, mas que deixa de existir quando chega em Itaquaquecetuba. Dali em diante a situação se agrava e a gente encontra só algumas espécies de aves, pouquíssimos peixes e capirava, que se tornou um cão vira lata”, pontua.

A bióloga destaca ainda que o problema também é reflexo do crescimento desordenado das cidades, em que construções irregulares atingem a mata ciliar do rio e ainda não contam com estrutura para tratar todo o esgoto.

“Nós tivemos asfalto em grande parte da cidade, isso faz com que toda a água que cai no chão leve a sujeira para dentro do rio sem nenhuma filtragem. Todo o lixo vai para o rio e forma uma poluição visível”, conta.

Nadia enfatiza ainda que a única comemoração para 22 de setembro é realmente porque existe, hoje, um dia para repensar a situação do rio Tietê.

Desequilíbrio ecológico é um ponto a ser vencido

Durante pesquisa para o livro "Peixes das Cabeceiras do Rio Tietê e do Parque das Neblinas", o professor doutor e pesquisador do Núcleo Integrado de Biotecnologia da UMC, Alexandre Hilsdorf, catalogou 53 espécies de peixes no rio tietê.

Com o trabalho, ele avalia que é possível dizer que o rio ainda tem vida no Alto Tietê, sobretudo nas cidades menores, como Biritiba Mirim e Salespólis, mas que também aqui na região ele começa a morrer. E cita, entre outros fatores, o desequilíbrio ecológico causado pela inserção de outras espécies no rio.

Segundo o professor, existe um peixe característico do rio Tietê na região, que é o peixe tabarana, um parente do peixe dourado. Com a poluição, a espécie começou a morrer, mas a inserção de um predador dele no rio contruibuiu para a quase extinção.

"A gente tem um trabalho de povoamento desta espécie realizado em parceria com a Sabesp e o Daee, mas ainda não é possível soltá-los em toda a extensão do rio porque foi inserido aqui o bagre africano, que é um predador ao supremo, e tem muita resistência, aguenta água poluída, vive com pouco oxigênio. Então para o repovoamento do tabarana, precisa extinguir o bagre", destacou o professor.

Descrença

Durante 16 anos, o Grupo Nascente do Tietê brigou pela preservação da rio em Salesópolis. A conquista veio só em 1996 com a construção do Parque Nascentes do Tietê, com o objetivo de garantir a saúde do manancial.

Um dos integrantes do grupo é o engenheiro mecânico Helder Wuo, de 59 anos. Ele conta que no decorrer da militância, acreditava que um dia o Tietê seria como o Rio Sena, de Paris, que foi totalmente recuperado. Mas, neste Dia do Rio Tietê, ele não vê mais futuro ao rio. "Precisa de interesse do poder público, e isso a gente realmente não tem", enfatiza.

Ele avalia que muito se evoluiu na despoluição do rio quando os órgãos ambientais reforçaram a fiscalização e autuação de empresas privadas, como as indústrias, mas que emperrou quando entrou na fase de fiscalizar o funcionamento das estatais, como a Sabesp.

"Ocorre uma combinação de fatores que não me levam mais a acreditar que verei o Tietê despoluído um dia. Sigo fazendo a minha parte, que hoje é para a moradia sustentável de quem mora no entorno do rio, mas não vejo evolução em questões como o tratamento de esgoto, por exemplo", pontua Helder.

Sobre a reclamação, O Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) informou que está realizando o desassoreamento do Rio Tietê, na região do Alto Tietê, no trecho entre o córrego Três Pontes, no limite de São Paulo com Itaquaquecetuba, e o córrego Ipiranga, em Mogi das Cruzes, numa extensão de 44,2 quilômetros.

O Daee esclareceu que atua especificamente na limpeza das margens e no desassoreamento do álveo do curso d`água propriamente dito, com principal objetivo de retirada de sedimentos (como areia, argila e materiais não inertes) e lixo depositados no fundo do canal com objetivo de melhorar as condições de escoamento e diminuir a probabilidade de ocorrências de inundações nos eventos chuvosos de maior magnitude.

Parte do material retirado no processo de desassoreamento contém detritos e lixo urbano (doméstico e às vezes até industrial, como pneus) e esse montante representa em média 4% do material removido.

Já sobre as fiscalizações, o Daee informou que as fiscalizações na bacia do Alto Tietê referem-se ao uso da água e seguem o cronograma regular, como em todas as bacias do Estado de São Paulo desde que se iniciou a emissão de outorgas para uso da água em 1992.

Ainda segundo o órgão, foram aplicadas 30 multas em 2017 e 23 autuações em 2018, na região. Já as fiscalizações para controle da qualidade da água são de responsabilidade da Agência Ambiental de São Paulo (CETESB).

Fonte de pesquisa e imagem: https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2018/09/22/rio-ti...

 

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