2.3 Extremófilos
Os 3,8 bilhões de anos nos quais a vida se desenvolveu em nosso planeta forjaram um amplo espectro funcional da vida microbiana, permitindo-a ocupar nichos considerados inabitáveis para a vasta maioria de outros seres vivos. A afinidade pelo extremo faz de alguns micro-organismos terrestres importantes alvos no estudo da astrobiologia, pois refletem a plasticidade da vida nos mais diversificados e inóspitos ambientes.
O escopo da astrobiologia figura-se mais vasto do que a procura por seres inteligentes e capazes de desenvolver ferramentas avançadas. A busca por vida extraterrestre baseia-se principalmente na prospecção de formas mais simples, que dominaram a história da evolução da vida na Terra: os micro-organismos. A diversidade metabólica e a capacidade de propagação conferiram aos seres microscópicos unicelulares uma longa existência em nosso planeta. A origem da vida na Terra teve início pouco tempo depois de sua formação, quando o planeta ainda era um corpo recém-solidificado. Porém, quais são os fatores que permitem a existência de vida ou a habitabilidade de um planeta? A resposta para essa pergunta ainda não é conhecida, no entanto, é o alvo prioritário da astrobiologia. Através do estudo dos ambientes extremos da Terra podemos vislumbrar as fronteiras para a ocorrência e propagação da vida em ambientes extraterrestres e sondar a incrível complexidade e o poder de sua adaptação.
Em 1964, o microbiologista norte-americano Thomas Brock fez uma descoberta que mudou o conceito de vida: ele observou micro-organismos sobrevivendo ao redor de gêiseres do Parque Nacional do Yellowstone (EUA) que lançavam água a 82°C, uma temperatura muito acima da tolerância dos seres vivos. Mais tarde, em 1967, Brock publicou os resultados de sua pesquisa descrevendo que o micro-organismo, identificado como uma arqueia e batizada de Thermus aquaticus, não apenas tolerava altas temperaturas, mas também exigia essa temperatura para crescer. Passamos, então, a conhecer um novo grupo de seres vivos – os extremófilos. Muitos pesquisadores começaram a explorar diferentes ambientes à procura de vida, muitos dos quais considerados até então inóspitos por serem ambientes extremos.
O conceito ecológico de ambiente extremo está intrinsecamente atrelado ao conceito humano de habitabilidade. Uma ampla gama de ambientes com extremos de calor, frio, pH, salinidade, pressão e radiação são dominados por micro-organismos, cuja divergência genética manifestada em diferenciação metabólica possibilitou a ocupação de nichos considerados improváveis. Esses ambientes podem ser característicos de exoplanetas com potenciais chances de abrigar vida, mesmo que suas condições ambientais sejam diferentes das condições medianas do planeta Terra. Atualmente, podem ser mantidos em meio de cultura representantes de todas as classes de extremófilos, entre elas, organismos termofílicos, hipertermofílicos, psicrofílicos, acidofílicos, alcalifílicos, barofílicos e halofílicos.
Referências
FRIAÇA, A. C. S. Subjetividade no reconhecimento da vida no universo. Revista Brasileira de Psicanálise, v. 44, n. 3, p. 93-101, 2010.
LAGE, C., DALMASO, G., TEIXEIRA, L., BENDIA, A., PAULINO-LIMA, I., GALANTE, D., JANOT-PACHECO, E., ABREVAYA, X., AZÚA-BUSTOS, A., PELIZZARI, V. & ROSADO, A. Mini-review: Probing the limits of extremophilic life in extraterrestrial environment‐simulated experiments. International Journal of Astrobiology, v. 1, p. 1-6, 2012.
NASA ASTROBIOLOGY INSTITUTE - NAI. About Astrobiology. Ago. 2012. Disponível em: <https://astrobiology.nasa.gov/about-astrobiology/>. Acesso em 16. abr. 2022.