Drogas Sintéticas
A cocaína é feita com folhas de coca. A heroína, com uma flor chamada papoula. A maconha é uma planta. As drogas tradicionais têm uma característica em comum: todas são naturais, ou seja, se baseiam em vegetais – que o homem cultiva e depois refina em processos relativamente simples. Mas e se fosse possível usar tecnologias modernas para reinventar essas drogas? Criar versões artificiais da cocaína, da heroína e da maconha, feitas com ingredientes sintéticos, que reproduzam perfeitamente os efeitos delas – mas que tragam várias vantagens, como ser muito mais potentes e baratas e, em alguns casos, possam até ser vendidas legalmente? Isso seria ótimo para os produtores e vendedores. E, quem sabe, o início de uma nova era de polêmica, violência e problemas para a sociedade: a era das drogas sintéticas. E ela já começou.
“As pessoas acham que, se você pode adquirir essas drogas legalmente, devem ser seguras. Mas elas podem ser muito mais nocivas do que as tradicionais”, diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Para se ter uma ideia, numa análise feita pela polícia científica do Estado americano de Kansas com 100 pacotes de maconha sintética de diferentes fabricantes, concluiu-se que, em alguns casos, os canabinóides sintéticos usados eram até 500 vezes mais potentes do que o THC, princípio ativo da maconha.
A proliferação das novas drogas sintéticas é favorecida por uma série de circunstâncias. Enquanto a fabricação dos entorpecentes tradicionais depende de plantas cultivadas em países como Bolívia, Colômbia e Afeganistão e seu comércio exige uma grande rede de logística e transporte até os mercados consumidores, os ingredientes das drogas sintéticas podem ser obtidos pela internet. Além disso, as drogas sintéticas têm alto rendimento.
O combate às novas drogas sintéticas enfrenta várias dificuldades. A principal delas é o fato de muitas dessas substâncias serem produzidas a partir de componentes químicos legais, presentes, por exemplo, na fórmula de alguns remédios. Quando a polícia científica e pesquisadores conseguem apontar os perigos e o potencial toxicológico de um desses compostos e encaminham às autoridades um pedido para que seu uso seja controlado ou proibido, os produtores criam variações sutis do composto original, com efeitos semelhantes, ganhando tempo até que a nova substância seja detectada e criminalizada.
Nesse jogo de gato e rato entre autoridades e traficantes, em que a legislação pode apenas reagir à medida que as novas drogas vão surgindo, multiplicam-se na internet os sites que comercializam os `legal highs', os baratos legalizados.
https://super.abril.com.br/ciencia/maconha-sintetica-e-a-era-das-drogas-de-laboratorio/