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A torneira que não quer fechar

Cerca de 320 mil toneladas de água foram usadas para resfriar os reatores. Em contato com o núcleo, o líquido se tornou radiativo e está sendo armazenado em cerca de mil tanques na usina. Reside aí uma das atuais dores de cabeça do Japão. Em agosto deste ano, a autoridade nuclear do país denunciou o vazamento de 300 toneladas de água radiativa dos tanques para o oceano e acusou a Tepco de negligência em relação ao assunto. A empresa afi rmou ter resolvido o problema, mas no início de setembro outra falha foi revelada: a Tepco admitiu que os níveis de radiação em torno dos tanques eram de 2.200 milisieverts por hora, e não de 100, como havia declarado antes. O motivo do engano? Os aparelhos usados para a medição não tinham escala acima de 100 milisieverts por hora. 

Além disso, como parte dos reatores derreteu, o material radiativo desceu até o fundo da instalação e pode ter se infi ltrado no solo. É impossível verifi car a situação in loco, mas descobriu-se que os lençóis freáticos que passam sob o local estão se contaminando e jogando material radiativo no oceano. O governo japonês anunciou que usará US$ 470 milhões em uma operação que vai congelar o solo ao redor da usina, forçando os lençóis freáticos a circular mais abaixo. Isso evitaria a contaminação, ao mesmo tempo que manteria a água impura dentro do solo congelado. O projeto, audacioso, só fi cará pronto em 2015.

Até lá, é provável que a água contaminada continue a correr para o oceano. Leonan Guimarães diz que os vazamentos não são tão graves quanto parecem. “É claro que são questões que não podem ser ignoradas, mas esses episódios acontecem numa proporção bem menor do que o acidente em si”, afi rma. “Além disso, quando misturadas à água do oceano, as concentrações de radiação caem a níveis desprezíveis.”

Renata Nitta, coordenadora da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, discorda. “Se uma quantidade grande de água é despejada no mar, ainda mais de forma contínua, ela entra  na cadeia alimentar e pode contaminar peixes que eventualmente serão consumidos. Essa radiação tem um efeito cumulativo. Há uma preocupação grande dos outros países, como Coreia e China, porque essa contaminação não necessariamente vai se localizar no Japão.” Mesmo depois de controlar as fontes de contaminação, a Tepco tem outro problema nas mãos. O que fazer com as cerca de 700 mil toneladas de água contaminada que devem ser recolhidas e armazenadas até 2015? Uma estação de purifi cação e descontaminação da água foi montada, mas opera em velocidade baixa e ainda não trata todos os componentes radiativos.

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