Gordura trans
Com 500 mil mortes nas costas, a gordura trans ganha os holofotes das autoridades em saúde do mundo todo com a campanha lançada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) neste mês. A iniciativa quer que os países adotem medidas para, até 2023, retirar de vez essas substâncias da composição dos produtos industrializados, já que há uma infinidade de artigos científicos apontando a relação entre o consumo de gordura trans e o aumento de doenças cardiovasculares, obesidade e outros males. Numa realidade em que boa parte da comida vem embalada e está disponível a qualquer tempo nas prateleiras dos supermercados, a indústria alimentícia encontrou nesse tipo de gordura uma maneira eficiente de prolongar a vida dos alimentos, ainda que à custa da redução da longevidade de quem consome.
O problema é que não se tem uma medida segura para ingestão, e isso não é de agora. Países como a Dinamarca, já há alguns anos, não permitem o uso desse ingrediente nos produtos comercializados. Em 2015, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, sigla em inglês) dos Estados Unidos determinou que a gordura trans fosse banida, até 2018, de todos os produtos vendidos no mercado americano. Isso porque a própria FDA já tinha elementos suficientes para desconfiar de seus malefícios. Com base em artigos científicos, o órgão apontou que comer gordura trans aumenta o nível de colesterol - LDL – o “ruim” – no sangue, e essa condição eleva o risco de desenvolver doença cardíaca, a principal causa de morte nos EUA.
O Brasil está atrasado no combate ao consumo dessa substância. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há limites estabelecidos para o uso de gordura trans em alimentos industrializados comercializados no Brasil. Desde 2003, entretanto, a presença desse item deve ser informada na tabela nutricional dos alimentos. No início do ano, a agência aprovou iniciativa regulatória para discutir o aumento da restrição ao uso de gordura trans em alimentos industrializados vendidos no país.
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Marina Bergoli Scheeren, professora adjunta do curso de Ciência e Inovação em Alimentos da PUCRS, adianta que o Guia Alimentar para População Brasileira (GAPB), lançado em 2005, orienta que o consumo de gordura trans deve corresponder a, no máximo, 1% do valor energético diário – isso equivale a aproximadamente 2g por dia, ou cerca de quatro bolachas recheadas, em uma dieta de 2 mil calorias. Entretanto, de acordo com a legislação brasileira (RDC nº 360) de 2003, fica excluída a declaração de gordura trans em porcentagem de valor diário (%VD) nos rótulos, uma vez que não é recomendada a ingestão de gordura trans, mesmo que em quantidades mínimas.
O guia Replace
A OMS sugeriu uma série de ações para tentar retirar a gordura trans de alimentos industrializados até 2023:
- Revisar fontes alimentares com gordura trans produzidas industrialmente e o panorama para as mudanças políticas necessárias.
- Promover a substituição de gorduras trans produzidas industrialmente por gorduras e óleos mais saudáveis.
- Legislar ou promulgar ações regulatórias para eliminar gorduras trans produzidas industrialmente.
- Avaliar e monitorar o teor de gorduras trans no suprimento de alimentos e mudanças no consumo de gordura trans entre a população.
- Conscientizar sobre o impacto negativo na saúde das gorduras trans entre formuladores de políticas, produtores, fornecedores e o público.
- Estimular a conformidade de políticas e regulamentos.
Para que serve a gordura tras
Melhora a consistência, acentua o sabor, deixa os alimentos secos, crocantes e com maior prazo de validade.
Principais alimentos em que é encontrada
— Bolachas
— Pipoca de micro-ondas
— Chocolate
— Sorvete
— Salgadinhos
— E todos os que têm gordura hidrogenada na composição
Importante!
A presença ou não de gordura trans nos alimentos varia de marca para marca. Na dúvida, leia atentamente o rótulo e veja se ela está presente na lista de ingredientes.
Por que ela faz tão mal
Entre seus efeitos mais prejudiciais, estão o aumento do colesterol LDL (que entope as artérias) e a diminuição do colesterol protetor HDL, além de danos e inflamação do revestimento das artérias. Isso tudo aumenta o risco de doenças cardíacas, podendo culminar em infarto ou AVC. Professora dos cursos de Tecnologia em Alimentos e de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Maringá (PR), Suelen Ruiz alerta para outro risco: na gestação, a gordura trans pode ser transportada pela placenta e comprometer o desenvolvimento do bebê.
– Isso pode alterar o comportamento e as respostas emocionais do feto – diz.
A gordura trans pode aparecer com nomes diferentes no rótulo, causando certa confusão para o consumidor. Os termos que podem ser encontrados na lista de ingredientes e que indicam a presença de gordura trans são:
— Gordura vegetal parcialmente hidrogenada
— Gordura parcialmente hidrogenada
— Gordura vegetal hidrogenada
— Gordura parcialmente interesterificada
— Óleo vegetal parcialmente hidrogenado
— Óleo vegetal hidrogenado
— Óleo hidrogenado
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2018/05/o-que-e-a-gor...