Tragédia Ambiental com Césio 137 em Goiânia/GO
Acidente com césio 137 deixou rastro de mortes e centenas de vítimas em Goiânia
Há 30 anos, catadores de lixo venderam cápsula para ferro-velho sem saber que era radioativa. Associação diz que 60 pessoas morreram e 1,6 mil foram afetadas No dia 13 de setembro de 1987, um equipamento contendo uma cápsula com césio 137 foi parar num ferro-velho no Setor Central de Goiânia, vendido por dois catadores de lixo. O dono do estabelecimento, Devair Ferreira, abriu a peça, para aproveitar o chumbo, sem saber que pertencera ao Instituto Goiano de Radioterapia e era usada em tratamentos médicos. Dentro, encontrou uma pedra que emitia uma luz azulada. Eram, na verdade, 19,26 gramas de cloreto de césio 137.
Durante quatro dias a novidade foi exibida para parentes e amigos — alguns chegaram a levar amostras para casa. Começava ali o maior acidente radioativo da História do Brasil e o maior já ocorrido no planeta fora de usinas nucleares.
Poucos dias depois, as pessoas expostas ao césio 137 começaram a apresentar os sintomas típicos de contaminação — diarreia, nâuseas, tonturas e vômito. Nos hospitais de Goiânia, foram medicadas como se tivessem alguma doença contagiosa. A hipótese de radiação sequer foi cogitada.
Somente 17 dias depois de a cápsula ser aberta (e de Ferreira já ter vendido parte dela a outro ferro-velho) é que a contaminação radioativa foi identificada. Em 1º de outubro de 1987, O GLOBO noticiou em sua primeira página: "Acidente radiativo fere 17 em Goiás". A comprovação da suspeita de contaminação se deu no dia anterior, a partir da análise de cientistas e técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), com sede no Rio de Janeiro.
As primeiras vítimas fatais foram a mulher de Ferreira, Maria Gabriela, que morreu no dia 23 de outubro de 1987, e sua sobrinha, a menina Leide, de 6 anos, que ingeriu pequenas quantidades de césio depois de brincar com o pó azul. A menina foi a vítima que apresentou a maior dose de radiação. Ela morreu horas depois da tia.
As outras duas mortes confirmadas em decorrência do contato com o césio 137 foram as dos funcionários do ferro-velho Israel Batista dos Santos, de 20 anos, no dia 27 de outubro, e Admilson Alves de Souza, de 18 anos, que morreu no dia seguinte. Os registros oficiais indicaram apenas essas quatro mortes, mas a Associação de Vítimas do Césio 137 aponta 60 mortes e pelo menos 1,6 mil pessoas afetadas diretamente pela exposição ao material.
A descontaminação da região produziu 13.500 toneladas de lixo atômico, cujo perigo para o meio ambiente é de 180 anos. O material foi depositado em 14 contêineres e enterrado sob uma parede de um metro de espessura de concreto e chumbo, no município de Abadia de Goiás.