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Contaminação por metais pesados em Mariana

Ao contrário do que aconteceu com os distritos rurais de Bento Rodrigues e Paracatu, cujos moradores foram transferidos para Mariana depois que seus vilarejos foram soterrados pelo rompimento da barragem, em Barra Longa os atingidos, em sua maioria, não foram desalojados. Eles permaneceram na cidade durante sua reconstrução. Parte da lama foi removida no decorrer de um ano após o desastre, parte foi aterrada no campo de futebol e no parque de exposições, parte foi transformada em bloquete de calçamento e parte secou, virou pó e se espalhou pela cidade com o fluxo de caminhões e veículos pesados. A exposição à poeira, ainda conforme o relatório, pode estar ligada a alguns dos sintomas descritos pela população. Metais como o níquel são absorvidos também pela pele e por inalação.

Os exames de sangue foram realizados em apenas 11 moradores por falta de recursos da organização, selecionada em um edital da ONG ambiental Greenpeace que buscava projetos para dimensionar o impacto do desastre na saúde de populações atingidas.

As amostras de sangue dos 11 participantes, que tinham entre 2 e 92 anos na época da coleta, em março de 2017, foram enviadas ao Laboratório de Toxicologia e Essencialidade de Metais da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, e analisadas apenas em janeiro deste ano. O atraso decorreu de um problema técnico no equipamento do laboratório, que precisou de reparos.

Foram pesquisados 13 metais. Dos 11 participantes, todos apresentaram aumento de níquel no sangue e 10, diminuição de zinco. Os exames para níquel foram repetidos em dois laboratórios.

O zinco participa de uma série de processos bioquímicos do corpo, da síntese e degradação de carboidratos, lipídeos e proteínas ao funcionamento adequado do sistema imunológico. Tanto sua redução quanto seu excesso são um problema para a saúde. Uma das hipóteses para a diminuição da absorção do zinco é sua interação com o níquel. O relatório destaca, porém, que essa questão deve ser investigada.

Do total de participantes, três apresentaram pequeno aumento de arsênio no sangue e, em cinco pessoas, o nível de arsênio encontrava-se normal, porém no limite superior da normalidade.

O relatório ressalta que, como há presença de arsênio na região, tradicionalmente mineradora, demonstrada em estudos de análises da água, sedimento, solo e em peixes, antes e depois do desastre, é possível que a população já estivesse exposta ao metal antes do rompimento.

Mas acrescenta que não há relatos, contudo, de acúmulo de níquel na atividade corriqueira da mineração de ferro – e que estudos recentes, feitos após o desastre, evidenciaram altas concentrações de vários metais no ambiente, dentre eles o níquel, e sua bioacumulação em diferentes espécies de girinos.

Um dos 11 diagnósticos é de Sofya Marques, que tinha apenas nove meses quando, na madrugada de 6 de novembro de 2015, uma avalanche de lama invadiu Barra Longa. Hoje com três anos, ela vive à base de antialérgicos, corticoides e broncodilatadores, tem erupções na pele periodicamente e sente uma dor forte na perna que os médicos não conseguem explicar. Em janeiro, os resultados dos exames toxicológicos mostraram que Sofya tem uma concentração de 12,78 microgramas por litro de níquel no sangue, três vezes mais do que o limite máximo do intervalo de referência, que vai de 0,12 a 3,9 microgramas por litro. O zinco, por sua vez, está significativamente abaixo do limite mínimo do intervalo, que vai de 3.518 a 12.294 microgramas por litro – em 1.302 microgramas por litro.

 

https://www.todamateria.com.br/desastre-de-mariana/

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